A prestação de cuidados de saúde requer mais recursos em todas as suas vertentes, em praticamente todos os países. O número de novos médicos e enfermeiros não acompanha o aumento da procura, impulsionado por uma população envelhecida e com mais doenças crónicas. Os orçamentos são limitados e os profissionais de saúde estão sobrecarregados.
“Em
Portugal, enfrentamos os mesmos problemas que em qualquer outro lugar”, afirma
Manuel Bosch Arcos, CTO do grupo Ribera, entidade privada de saúde com 16
hospitais e 74 centros médicos em Espanha, Portugal e Europa Central, que
atende mais de dois milhões de pacientes por ano. Para responder ao aumento da
procura e aos custos associados, o grupo Ribera aposta em dados e tecnologia,
com ajuda da Microsoft, para melhorar os sistemas de saúde disponibilizados aos
seus pacientes.
“Uma
parte essencial da empresa é a tecnologia”, refere Bosch. “Não somos uma
empresa de saúde tradicional. Temos contratos com o governo baseados na
qualidade dos cuidados, o que nos permite ser mais inovadores. Precisamos de
dados sólidos para garantir que o que fazemos é benéfico para os pacientes,
para a empresa e para o sistema de saúde.”
O
grupo Ribera vê a tecnologia e os dados como ferramentas para transformar o
sistema de saúde. “O que estamos a fazer é repensar os dados e a forma como os
cuidados de saúde podem ser adaptados, e fazê-lo em tempo real”, acrescenta.
Uma
pequena percentagem de pacientes representa uma grande parte dos custos com
cuidados de saúde, devido a doenças crónicas, muitas vezes múltiplas. Melhorar
a saúde destes pacientes é vantajoso para o sistema e, naturalmente, para os
próprios.
A Futurs, filial
tecnológica do grupo Ribera, criou o portal Cynara Citizen não apenas para
realizar as tarefas habituais dos portais hospitalares — como marcação de
consultas, carregamento de resultados laboratoriais, colocação de questões ou
realização de teleconsultas via Microsoft Teams — mas também para coordenar um
centro de gestão de unidades, com foco na atenção ao paciente, onde os
intervenientes se podem reunir para desenvolver um plano de saúde digital
personalizado e monitorizá-lo adequadamente.
As
múltiplas camadas da tecnologia Cynara
Cynara
é o nome do tipo das alcachofras, muito apreciadas na zona sul de Alicante,
onde se encontra a equipa de desenvolvimento inicial. Além disso, o nome serve
como metáfora para as várias funcionalidades do portal, que se sobrepõem como
as folhas de uma alcachofra, explica Bosch. O uso das ferramentas da Microsoft
pelo grupo Ribera tem camadas semelhantes às desta planta. Utiliza o Dynamics
365 Contact Center, modelos OpenAI para projetos de IA generativa, ferramentas
do Azure Machine Learning para aplicações de IA não generativa, Microsoft
Fabric, Dynamics
Business Central e Microsoft 365 Copilot.
“Em
Portugal, no Hospital de Cascais, estamos a implementar as capacidades de IA
disponíveis no grupo Ribera. Os primeiros passos centraram-se na análise de
dados e, até 2026, iremos implementar algumas capacidades do Cynara Citizen
como parte da estratégia de gestão da saúde da população”, afirma Manuel Bosch
Arcos.
Através
do Cynara Citizen, os profissionais de saúde do grupo Ribera podem acompanhar
os indicadores de saúde dos pacientes, com especial atenção aos que têm doenças
crónicas, permitindo intervir rapidamente sem esperar pela próxima consulta.
Alguns pacientes com doenças crónicas tendem a não agir até que a sua condição se
agrave, ao ponto de terem de recorrer às urgências. Com o Cynara Citizen, os
profissionais podem verificar remotamente os indicadores médicos essenciais e
comunicar proativamente com o paciente sobre o que deve fazer para evitar uma
emergência médica.
“Ligámos
a aplicação aos resultados clínicos”, explica Bosch. “Os pacientes estão a
conseguir um melhor controlo da glicemia e recorrem menos às urgências.”
Segundo o grupo, os pacientes de nível 3 — os casos mais complexos de doenças
crónicas — inscritos no Programa de Gestão da Saúde da População do Cynara
Citizen, registaram uma redução de 23% nas idas às urgências e uma diminuição
de 18% nos reingressos hospitalares em 30 dias, comparativamente ao ano
anterior ao lançamento do Cynara Citizen. Estes pacientes estiveram no programa
clínico, otimizado com tecnologia, durante pelo menos 12 meses. O grupo Ribera
comparou o uso dos serviços antes e depois da inclusão no programa.
De
forma mais geral, o Cynara Citizen, ferramenta desenvolvida pelo grupo Ribera
com tecnologia da Microsoft, pode reduzir lacunas nos cuidados de saúde,
ajudando os pacientes a seguir os seus planos de saúde e diminuindo a
probabilidade de recorrerem às urgências. Ao visualizar em tempo real, por
exemplo, uma descida de glicemia num paciente diabético, os profissionais do grupo
Ribera podem contactá-lo e garantir uma reação antes que os níveis desçam ao
ponto de ser necessário chamar uma ambulância ou o paciente entrar em coma. Os
pacientes conhecem os profissionais que acompanham o seu caso, podendo
enviar-lhes mensagens e marcar consultas. O grupo Ribera acredita que os
pacientes sentem que estão a receber cuidados de qualidade e têm bom acesso ao
serviço, comenta Bosch. A aplicação funciona sobre o Microsoft
Azure, permitindo o acesso fácil e seguro por parte de
pacientes e profissionais, a partir de praticamente qualquer lugar.
O
investimento ativo do grupo Ribera em IA
O
Cynara Citizen é apenas uma das formas como o grupo utiliza tecnologia. Há mais
de quatro anos que investem ativamente em Inteligência Artificial com três
objetivos: classificar dados, refiná-los para obter melhores resultados e fazer
previsões. Espera-se que o machine learning classifique a informação e
que médicos e pacientes compreendam melhor os casos clínicos, conseguindo, por
exemplo, identificar padrões que indiquem elevada probabilidade de reingresso
hospitalar, permitindo ajustar os cuidados. O grupo Ribera desenvolveu um
modelo com Azure Machine Learning para identificar pacientes em risco de
desenvolver úlceras de pressão, uma preocupação nos hospitais. Outro modelo
prevê o risco de quedas.
“A
vantagem é que, ao utilizar modelos, é possível recolher muito mais informação.
Não apenas cinco itens, mas até 30, usando variáveis difíceis de encontrar,
pois podem estar nos resultados laboratoriais e seria impossível para uma
pessoa recolhê-los manualmente”, afirma Mireia Ladios Martín, Diretora de
Qualidade no grupo Ribera. As ferramentas de IA complementam as escalas
tradicionais de identificação de riscos.
Por
exemplo, o grupo Ribera quis identificar pacientes que poderiam ter
desenvolvido uma infeção após cirurgia. Para isso, uma equipa médica analisou
cada paciente operado e registou se teve infeção após 30 ou 60 dias. Depois,
foi usada mineração de dados para identificar tudo o que estivesse relacionado
com a infeção. O modelo resultante atribui uma pontuação a cada paciente,
permitindo identificar os que devem ser acompanhados mais de perto para
confirmar ou excluir a infeção.
A IA
generativa também pode criar conteúdos. Neste âmbito, o grupo está a explorar
vários projetos para aliviar a carga administrativa dos médicos. Um deles
utiliza IA para gerar documentos de alta em procedimentos rotineiros, como
cirurgias às cataratas, com o objetivo de libertar os médicos de tarefas
administrativas e permitir-lhes dedicar mais tempo ao cuidado direto dos
pacientes.
O grupo
Ribera anonimiza completamente os dados e trabalha com a Microsoft para
garantir a segurança dos mesmos, bem como os fundamentos éticos e legais da IA
no contexto dos cuidados de saúde. “Devemos ser muito cautelosos com a
privacidade dos pacientes, com o tipo de informação que enviamos, onde e como”,
afirma Bosch, acrescentando que o grupo analisa cuidadosamente a justificação
para o uso da IA em aplicações corporativas e de saúde, garantindo que seja
ética e legal.
Bosch
compara o uso da IA no grupo Ribera a um taxista que utiliza GPS: o condutor —
ou, neste caso, o médico — continua a tomar decisões, mas a tecnologia ajuda a
acelerar o processo e a reduzir o stress.
“Há
mais procura do que aquela que o sistema de saúde atual consegue satisfazer”,
conclui Bosch, “por isso temos de fazer mais e melhor com os mesmos recursos.
Precisamos de ser mais eficientes e gerar mais valor.”


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